Como vai sua criança?

Quase todas as memórias afetivas que existem em nosso inconsciente, que é a parte emocional e não racional do cérebro, foram registradas no passado. Este registro começou desde a concepção, também aconteceu na gestação e continuou na infância, até a adolescência. Nestas fases que começamos a desenvolver os sentimentos de medo, coragem, alegria, tristeza, amor, cuidado, ressentimento, interesse, rejeição, raiva, vontade, hostilidade, entusiasmo, indiferença, empatia, dentre tantos outros. Essas sensações foram geradas numa primeira vez por algum estímulo que recebemos e, desde então, as carregamos conosco por toda a vida.

Ou seja, é a criança que existe em nossa mente, que responde quando algum gatilho aciona a parte emocional de nossa psiquê. Por exemplo: seu chefe lhe dá uma bronca em público e você, sem conseguir segurar, começa a chorar copiosamente, sentindo muita vergonha e raiva. Não é você adulto que tem esta reação, pois a parte racional – que rege os adultos – é o consciente e consciente não faz ninguém chorar. Pode ser que a bronca do chefe tenha sido um gatilho que disparou em você a lembrança de quando seu pai lhe repreendeu desta mesma forma lá na infância e você se sentiu mal. Aquela foi a primeira vez que as sensações de vergonha e raiva apareceram. Ao longo da vida vamos passando por essas circunstâncias, sem nos dar conta exatamente do porquê termos determinadas reações à situações aparentemente simples e sem tanta importância. A raiz disso sempre está no passado, no que chamamos de porões da mente.

Um dos melhores remédios para tentar conter os sentimentos ruins que são disparados em nós por estímulos diversos é aceitar que já fomos uma criança machucada, por vezes. Mesmo quem sempre esteve cercado de cuidados e amor carrega registros negativos em seu inconsciente. Portanto, a receita é simples: no momento em que a dor lhe invadir, tente visualizar você ainda criança. Feche os olhos e concentre-se. Certamente virá alguma imagem em sua cabeça, deixe as lembranças fluírem soltas. Olhe para essa criança e tente identificar quais sentimentos ela carrega neste momento. Aí, então, acolha-a. Abrace-a, diga que agora vocês são adultos, que não precisam mais sentir aquela dor, que sua criança não está sozinha e que vocês estão juntos. Aceitar que sentimos dores é o começo de toda cura.

O cérebro humano tem uma capacidade de performance incrível e é muito adaptável, entretanto ele se “engana” com algumas situações achando-as reais. Por isso, quando você se enxerga ainda criança, é capaz de perceber o sentimento que está latente no momento e acolhe esse pequeno machucado, dando-lhe colo, fazendo-lhe carinho e dizendo que está tudo bem, o cérebro realmente entende que ficou tudo bem e o registro negativo desaparece. Se não desaparecer por completo, vai se diluindo. Tente fazer este exercício sempre que se sentir mal. Os resultados são excelentes!