O problema é seu

Carla terminou seu relacionamento com Evandro e bradou raivosa aos quatro cantos: “nosso relacionamento não deu certo porque ele é egoísta, porque gritava muito comigo, porque não me dedicou amor suficiente, porque não fazia as coisas por mim”. Culpava-o agora, com o fim do casamento, por ter largado uma vida em um lugar e se mudar para outra cidade atrás de Evandro. Jogava nas costas do ex-marido toda a responsabilidade pelo fim do enlace. “Por que ele isso, por que ele aquilo, por que ele acolá…”, apontava o dedo a todo instante para o rapaz.

O que Carla não tinha se dado conta é que nunca o problema está no outro. Ou, pelo menos, apenas no outro, por mais duro que seja reconhecer isso. Ela é que não aguentou o jeito de Evandro. Ela é que não foi capaz, pelas suas próprias feridas, de lidar com o jeito de amar do companheiro. Ela, talvez, é que não tenha dado oportunidade para que o parceiro pudesse ter lhe dedicado toda a doação que podia.

Culpar o outro pelo mal que nos acontece é sempre uma cilada. Claro que as pessoas ao nosso redor podem também ter parcelas em nosso sofrimento, ninguém está imune a isso, entretanto quando vemos os problemas alheios, normalmente nos esquecemos dos nossos. E as perguntas que suscitam são: adianta falar do outro? Podemos mudar o outro? Ou podemos mudar a nós mesmos, tirando sempre o melhor de nós?

O melhor é sempre olhar para as nossas próprias fraquezas, pois só assim seremos capazes de melhorar, por meio de autoconsciência, de reflexão, de terapias, de conversas. Enquanto estivermos olhando o problema dos outros, perdemos a excelente oportunidade de perceber os nossos próprios defeitos. Afinal, Carla não pode mudar o jeito de Evandro, mas ela pode, completamente, mudar a si mesma.